O puzzle das 64 peças
A Gene Key 17 convida-nos a uma jornada de transformação da sombra da Opinião à siddhi da Omnisciência, pelo caminho da Visão. Todos temos crenças que nos moldam a forma como pensamos e que se traduzem na forma como vemos o mundo. Quais são as opiniões que te limitam? Aquelas que estão de tal forma enraizadas que, na sombra, acreditas que te definem? Eu sempre achei que nada se conseguia sem esforço. Contemplando diferentes momentos da minha vida, dou conta que optei muitas vezes pelos caminhos mais difíceis, como se caso não escolhesse esse, não teria o resultado esperado. Quando nos identificamos com as nossas opiniões e as nossas crenças, não permitimos que exista outra solução para a questão colocada, e vamos-nos defendendo. É aqui que nos podemos perder. Somos vítimas da nossa opinião. E se questionarmos a nossa ideia preconcebida, se questionarmos a crença, o padrão? Poderemos ganhar espaço interno para ver outra perspetiva? Para abandonar a nossa perspetiva aparentemente segura? Conseguimos desaprender o que durante tanto tempo foi tambor e toque para a nossa ação? Visão é conseguir render-nos. Partilhamos a nossa verdade, sem precisarmos de nos agarrar a ela, sem precisar de ter de convencer. Temos a possibilidade de mudar, de mudar a nossa mente. Nós não somos a nossa mente, as nossas opiniões, os nossos padrões. Conseguimos ver com outro olhar as mesmas situações? Uma visão ampla, desapegada, à frente no tempo, resgatando essa capacidade de ver o próprio padrão para, assim, o poder transcender? Ver, observar, através da visão superior leva-nos à sabedoria. Ver através do nosso coração é uma revolução. A omnisciência está associada à abertura do terceiro olho, do nosso centro, do nosso coração. É a transcendência da dualidade. É mais do que ver algo: é ver através de algo. Ver através do nosso coração levar-nos-á, inevitavelmente, a Casa. Temos de voar alto, como o falcão, para a encontrar.
Adiei escrever sobre esta chave. Tudo o que escrevia ficava pela sombra, pela superficialidade. Foi uma autêntica dinâmica para evitar o puro parecer, e questionava cada frase escrita. Todo o processo é irónico quando nos damos conta de que é disto mesmo que trata a sabedoria desta chave. Andei ocupada, orientada para as tarefas, sem descanso, como quem tem uma bateria que toca sem calar. E isso é o que me deixa à tona, à superfície, e me dificulta o mergulho. A mim e a todos. O dom da autoconfiança pede um desacelerar, pela calma e tranquilidade. Pede-nos para parar. Parar de lutar contra as marés e, para depois, nos deixarmos ir até sentirmos que somos o mar. Não é algo que se treine ou que se possa impor. Ela vem. A autoconfiança surge quando há entrega e paciência. Este dom é um convite constante à contemplação do próprio processo, em direção à profundidade das nossas águas, das nossas emoções. Algures nesse fundo do mar, há uma serenidade, um silêncio, onde podemos permanecer. Aí estamos presentes, somos presentes e sentimos a Presença. Presença é voltar a Casa, nesse tempo-espaço aberto, seguro, que, ao mesmo tempo, abraça a incerteza e a sabedoria da vida. Aqui e agora. E está tudo certo. A gene key convida-nos à transformação da sombra da superficialidade à siddhi da presença, através do caminho da autoconfiança.
Como queres estar ao serviço se não confias?”, ouvi. E por ter ouvido, questionei: “Não confio em quê? Em quem?”. Fiquei com este diálogo praticamente dois anos dentro de mim. Sentia a importância da mensagem, mas entender o seu significado não foi imediato. Pensava eu que confiava, pensava eu que já me tinha entregue. Questionava que mais haveria a fazer, que mais poderia entregar além do coração, ao que sentia ser a direção e o rumo a tomar. Dois anos depois, escutei. Estava a partilhar aquele momento, e quando não estava a procurar decifrar, a porta para o entendimento ficou escancarada. Por muito que o meu coração me indicasse o caminho e que o quisesse seguir, eu ainda deixava pedrinhas no chão para o caso de ter de voltar atrás. Tinha sempre uma réstia de controlo, uma necessidade de segurança. É sobre isto que nos fala a gene key 21. Um convite de transformação da sombra do controlo à siddhi do valor, através do caminho da autoridade. Um convite a largar o controlo através da submissão, de nos rendermos à bússola interna, à voz que nunca mente, por não ser da mente. Reclamar a nossa autoridade é assumir a responsabilidade por escrevermos a nossa história, confiando. Em quê? Em quem? Na verdade. Ainda sinto as pernas tremer, mas em vez de deixar pedras, sigo o chamado. A verdade é como trovão que nos abala por dentro, para não nos deixar adormecer. O Veado estará sempre um pouco mais adiante a iluminar o caminho.
Porque complicamos tanto? Porque nos deixamos embrulhar por camadas de coisas que vamos acumulando, somando, que nos vão apertando e espartilhando em vidas pequenas e atoladas. Como um presente que se vai encaixando dentro de caixas cada vez maiores, mas que nos mantém afastados da essência que guarda dentro. Camadas e camadas que vão tornando cada vez mais complexo saber o que realmente importa. A gene key 23 propõe uma abordagem bastante prática: retirar cada camada, deixando apenas aquilo que é prático, belos útil. A simplicidade de desenharmos a nossa vida, ao invés de nos guiarmos pelas linhas traçadas por outros. Perguntar-nos pelo que realmente importa e viver de acordo com o que estabelecemos para a nossa vida. Tirar o que ocupa para libertar esse espaço para que o que nos inunda de mais vida. A quintessência é a essência mais pura, é o ether, é o amor. Na verdade, na essência, seremos apenas isso. Essa energia vital que não se vê, mas que tudo cria. E em cada uma das nossas criações, nas tarefas mais mundanas da vida, podemos trazer essa essência de nós mesmos e ficar, dar e partilhar esta que é a nossa fonte inesgotável de criação, aquilo que realmente importa. Este é o convite de transformação da sombra da complexidade à siddhi da quintessência, pelo caminho da simplicidade.
É um padrão que nos toca a todos, por configuração, programação ou imitação. As adições, os vícios, o que repetimos e reforçamos, usando necessidades, motivos ou desculpas. A nossa mente é capaz de justificar e de nos apresentar os argumentos que validem todos os escapes e todas as nossas bóias de salvação. Sejam vícios físicos, emocionais ou mentais, vamo-nos desculpando na mesma medida que nos mantemos vítimas e reféns deles. Qualquer coisa que tape aquele buraco, qualquer coisa que nos mantenha alienado e nos mantenha numa zona de conforto. Vícios que nos colocam na inércia e nos sugam a energia, vícios que nos aceleram e nos trazem uma sensação de agitação dentro. Em última instância somos viciados na vida, mas também no nosso sofrimento, fazendo com que o possamos ir adormecendo, mas ele segue ali. É na pausa que está a oportunidade. A pausa entre cada padrão. O momento em que o vazio nos visita. São estes momentos de pausa que nos permitem aproveitar para elevar a nossa consciência e transformar o padrão, ou para nos levar novamente a mais uma voltinha no carrossel. Da pausa surge a invenção. Enquanto no vício pensamos em círculos, na inovação pensamos em espiral. A invenção é uma energia criativa poderosa, que nos amplia e expande. Pausa para o arar, escutar, decidir e transformar. Na pausa vive o silêncio. Não o silêncio oco, o silêncio vivo. Aquele que nos permite nada ouvir para tudo escutar, a partir de dentro e em direção ao Todo. É nesse silêncio que se quebra a ilusão da separação. Escutar que nunca estivemos nem nunca fomos a lugar nenhum, muito menos, sozinhos. Este é o convite de transformação da sombra da adição, à siddhi do silêncio, pelo caminho da invenção.
A Gene Key 25 vai da sombra da constrição ao amor universal, pelo caminho da aceitação. Todos temos as nossas resistências, mas, no fundo, sabemos que podemos fugir, mas não nos podemos esconder daquilo que nos traz desconforto. O convite a esta transformação tem três fases: Permitir, Aceitar, Abraçar. O desconforto é sentido no corpo. Ficamos tensos, ansiosos, a preocupação manifesta-se de diferentes formas, e o tempo parece não estar a nosso favor. Vemos limitações em todo o lado. E quando estas constrições são internas, parece que sair da nossa mente é uma verdadeira missão impossível. Eu tenho as minhas! Muitas! Não é por acaso que tenho esta chave no meu perfil. O caminho da aceitação começa pela permissão para que a vida seja exatamente como ela é, aceitar como ela é, e abraçar como ela é. Não, não nos convida à resignação, pelo contrário. Convida-nos a sentir para saber, e desafia-nos a assumir coragem de sentir o medo. A aceitação permite-nos relaxar, deixar que o ar volte a entrar nos nossos pulmões e, assim, ganhar novo espaço dentro de nós. Vivermos mais leves, movermo-nos como quem dança. Este é o uníssono da vida: o amor universal. É o que mantém tudo junto, é esta cola, que nos conserta sempre. O amor conserta-nos sempre.